A 3ª edição do Rally Mulheres do Agro de 2021 está ocorrendo em formato digital e presencial. O projeto registra a atuação das produtoras rurais em diversas culturas por todos os cantos do Brasil. Na manhã do dia 23 de março, com a parceria da BRANDT, da HELM do Brasil e da Sicoob, o Rally apresentou o programa “Arena Nacional das Mulheres do Agro”, por meio do canal do YouTube da Revista Agrícola, para dar destaque à produção da cultura do café no norte pioneiro do Paraná.
Para a transmissão, foram convidadas a economista doméstica e coordenadora responsável pelo projeto Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná do IDR – Paraná, Cíntia Mara Lopes de Souza, e a presidente da Amucafé – Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná e produtora, Claudionira Inocência de Souza. A live teve moderação do diretor-geral do Rally Mulheres do Agro, Marcelo Souza, e a participação da jornalista Agatha Zago.
No começo do programa, Cíntia explicou que o projeto das Mulheres do Café e a Associação Amucafé são um trabalho conjunto, sendo que a Associação é resultado da iniciativa articulada pelo IDR-Paraná desde 2013. Durante esses 8 anos, um número expressivo de produtoras e de famílias cafeicultoras já foram atendidas pelo projeto, com cerca de 250 mulheres envolvidas com a produção do café especial na região de 11 municípios do Norte Pioneiro paranaense.
Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná
Segundo Cíntia, as participantes do Mulheres do Café têm assistência técnica exclusiva dos profissionais do IDR-Paraná, que trabalham somente com essas cafeicultoras. “Essa metodologia é sistêmica, dinâmica, participativa, e tem dado muito certo”, afirma a coordenadora, dizendo que os resultados das ações e a continuidade do programa refletem esse sucesso, “vemos que muitos projetos são criados e tem boas ideias, mas não tem muita permanência, diferentemente do Mulheres do Café”.
São agregadas cada vez mais mulheres no programa e, de acordo com Cíntia, tanto os técnicos quanto as cafeicultoras estão em contínuo aperfeiçoamento. “Elas adquirem independência de conteúdo e de comercialização, vamos integrando as mulheres que antes ficavam à margem das assistências técnicas da ATER pública”, comenta.
Amucafé
A Amucafé foi criada para atender uma necessidade de representação de pessoa jurídica das mulheres produtoras do norte pioneiro, pois o trabalho de forma coletiva é feito desde o começo do projeto da IDR-Paraná. Essa formalização tem o objetivo de ampliar a divulgação e também de buscar recursos públicos e privados para o projeto.
A maior parte das mulheres cafeicultoras são de agricultura familiar, ou seja, possuem pequenas propriedades, com média de 4 hectares. “Algumas possuem diversificação, mas outras dependem única e exclusivamente da cafeicultura, por isso o projeto tornou-se muito importante para agregar valor e potencializar ainda mais essa produção, gerando mais renda para as famílias e, consequentemente, permanência delas na atividade”, afirma a coordenadora.
Norte Pioneiro do Paraná
Sobre a produção no Norte do Paraná, Cíntia ressalta que a região de Pinhalão tem uma área de café bem extensa, sendo o segundo maior produtor da cultura no Estado, de acordo com os últimos levantamentos feitos. Além disso, há um nicho de destaque na produção do café especial, com o estabelecimento de uma associação dedicada a isso, a Aprocafel, e o grupo de Mulheres do Café da Lavrinha. “A Lavrinha é um bairro importante de Pinhalão na produção de café especial, com um potencial enorme pela sua localização, altitude e microclima”, enfatiza. Toda essa organização fez com que as mulheres cafeicultoras do projeto ganhassem diversas premiações em concursos estaduais e nacionais.
Agricultura familiar
Esse reconhecimento do trabalho realizado na região ajuda não apenas as mulheres, mas sim, fortalece toda a família no campo. Elas passam o seu conhecimento para os filhos e parentes, aumentando a renda familiar e proporcionando uma melhor qualidade de vida, fazendo com que seja possível continuar na atividade. “Isso promove a sucessão no campo, são gerações trabalhando na propriedade e querendo permanecer na cafeicultura”, comenta a coordenadora, dizendo que a produção de café especial é, comprovadamente, uma das alternativas que os pequenos cafeicultores podem optar para gerar mais renda e potencializar a agricultura local.
As terras vão passando de herança para os filhos, e por ser agricultura familiar, os cafeicultores não tem um poder aquisitivo grande para investir pesado ou em um único ano na lavoura, então o trabalho é feito de forma gradual. “Estamos falando de uma cultura perene, muitos pés de café já estão com idade e precisam ser renovados. É um trabalho extenso e feito de forma gradativa, estudando junto com a família maneiras de potencializar a sua produção ainda mais”, explana Cíntia.
Café especial
O café especial, que é protagonista do projeto das Mulheres do Café, é bem diferente do convencional que encontramos no mercado, e seu valor reflete isso. A condução da lavoura, adubação, colheita e secagem desses grãos passam por processos específicos, que são delicados e meticulosos. Como exemplo, Cíntia cita a colheita seletiva manual, feita em um ponto de maturação específico, com o “grão cereja”, nem verde e nem maduro, com tom de vinho, um vermelho bordô, ou a variedade amarela. É essa triagem minuciosa dos grãos que fornece as melhores notas sensoriais para o café, alcançando uma doçura e um sabor singular.
A maturação dos grãos nos pés de café é desuniforme, com diferentes floradas durante o período da colheita. Isso dificulta ainda mais o processo, fazendo com que as cafeicultoras tenham que passar, no mínimo, três vezes no decorrer da safra para colher os grãos maduros do café especial. “Tem todo um trabalho realizado de forma bem detalhada para que esse café se torne especial e para que chegue especial até a xícara do consumidor”, reforça a coordenadora.
Produtora Claudionira Inocência de Souza
Filha de cafeicultores, neta e bisneta de produtores, Nira conta que sua família chegou no município de Matão (PR) em 1915. “É uma vida centenária no campo”, diz a presidente da Amucafé. Desde criança ela sempre esteve em contato com a terra, acompanhava os cuidados com as lavouras de café e depois passou a ajudar no terreiro e na produção. “Você vai adquirindo essa paixão pelo café, que passa de geração para geração”. Com a ajuda do projeto Mulheres do Café, a atividade cresceu ainda mais, junto com o amor pelo trabalho no campo.