A Revista Agrícola entrou em contato com o Projeto Mulheres da COOPELER para conhecer um pouco mais sobre a realidade das produtoras que trabalham na cadeia produtiva do leite na região paranaense. A assistente social do IDR Paraná-Emater, da região de Umuarama, Juliana Fonzar, apresentou a iniciativa para a nossa equipe de reportagem e compartilhou a história dessas mulheres guerreiras do agro brasileiro:
O Paraná é o segundo maior produtor de leite do país com quase 4,4 bilhões de litros produzidos em 2018, segundo o IBGE. Conforme o Censo Agropecuário, 86% dos estabelecimentos leiteiros do estado são geridos em regime familiar. A participação feminina nesta cadeia produtiva é decisiva, seja no gerenciamento ou nas demais práticas da atividade, como os processos de ordenha e manejo dos animais. As mulheres também são protagonistas na agregação de valor através do processamento e produção de derivados.
É nesse contexto que atua Edna de Cares Guimarães, 49 anos, que vive em Cafezal do Sul. Há 11 anos, ela e o marido Antônio Guimarães, 52, decidiram deixar os empregos na cidade e se dedicar integralmente à bovinocultura leiteira na propriedade de 14,5 hectares da família.
Até então, contavam com dez animais e faziam uma ordenha ao dia, que conciliavam com as atividades externas. Com a decisão, adquiriram mais animais da raça holandesa e adotaram duas ordenhas diárias. Também investiram na produção de silagem e na criação de bezerras, produzindo o próprio rebanho. Com isso, gradualmente o retorno foi aumentando.
O papel de Edna é crucial nessa história: ela é responsável pelas anotações técnicas e econômicas, por toda a higiene dos equipamentos e espaço de ordenha assim como pela criação das bezerras, além das outras atividades que desenvolve com a família. Hoje o casal conta com o apoio do filho Bruno, de 18 anos, que está terminando o ensino médio e pretende se manter na propriedade.
“A ordenha da manhã é feita pelo meu marido e a da tarde pelo filho, mas atuamos em conjunto. Enquanto um está buscando as vacas eu vou abastecendo os cochos, colocando ração. Enquanto um vai colocando as teteiras, eu estou alimentando as bezerras. Quando termina a ordenha e desliga a máquina, aí eu faço toda a limpeza. As bezerras, desde o nascer até os dois anos de idade é minha responsabilidade. Dar de ‘mamá’, fornecer ração e desmamar aos dois meses, é comigo sempre”.
Foram implantadas várias práticas para melhorar a eficiência da atividade como, o uso de inseminação artificial com sêmen sexado e na parte nutricional, o fornecimento de ração de acordo com a produtividade dos animais. “Para termos resultados diferentes temos que fazer diferente” afirma a produtora.
Para Edna, o trabalho feminino faz a diferença no agro. “Onde tem uma mulher trabalhando na área rural, seja qual for a atividade caminha-se melhor, as coisas dão mais certo. Somos muito comprometidas com tudo que fazemos e conseguimos observar alguns pontos que são necessários e que muitas vezes passam despercebidos. Se nós estamos ali, fazemos diferença”.
A família conta hoje com 21 animais em lactação e uma produção média de 380 litros/dia que são destinados à Cooperativa dos Produtores de Leite do Território Entre Rios/COOPELER de São Jorge do Patrocínio que recebe e processa a produção de agricultores familiares de sete municípios da região.
O leite é uma das principais atividades agropecuárias da região de Umuarama, com uma estimativa de 185,5 milhões de litros produzidos em 2019, segundo o Departamento de Economia Rural da SEAB. Além disso, a equidade nas relações de gênero é um dos princípios da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, sendo importante incorporar essas discussões dentro dos projetos estratégicos da ATER e desenvolver ações transversais com esse mote. Pensando nisso, o IDR-Paraná – Iapar-Emater criou o Projeto Mulheres da COOPELER, uma iniciativa multidisciplinar, onde serão trabalhados grupos de mulheres da cadeia leiteira objetivando capacitar, valorizar e visibilizar o trabalho feminino na atividade.
Para o primeiro ano de execução do projeto, estão formados grupos nos municípios de Altônia, Cafezal do Sul e São Jorge do Patrocínio, junto aos quais serão realizadas cinco reuniões onde, parte do tempo será destinada a capacitação com temas ligados a sanidade, nutrição do rebanho, qualidade do leite e produção de silagem, e parte, a atividades e temáticas ligadas ao desenvolvimento humano, como organização coletiva, gênero, direitos sociais, qualidade de vida, entre outras. Além das reuniões, serão realizadas visitas técnicas pelos extensionistas de referência na atividade leiteira e extensionista social.
O projeto começou no segundo semestre de 2019 quando foram mobilizados vários parceiros, entre eles prefeituras dos municípios abrangidos pela COOPELER, Secretarias Municipais das políticas de Agricultura e Assistência Social, Fetaep, Sindicatos de Trabalhadores Rurais e SENAR, para discussão da proposta e em novembro foi realizado o 1º Encontro das Famílias da COOPELER, onde a proposta de trabalho foi apresentada a mulheres cooperadas e outras que atuam na atividade. As reuniões nos municípios estavam marcadas para começar em abril deste ano, porém, devido à pandemia do novo coronavírus, foi necessário postergar o início das atividades.
A agricultora Rozângela Correia Gil, 52, de Altônia, membro da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município e vice coordenadora de mulheres da Região Sindical Três da Fetaep, afirma que “A Fetaep tem buscado traçar junto aos parceiros estratégias no esforço de alcançar igualdade entre homens e mulheres nos espaços sindicais, públicos, políticos e na sociedade como um todo. O projeto do IDR – Paraná vem ao encontro da nossa visão de reconhecimento da importância da mulher e a sua valorização nas atividades rurais. Cremos que vai contribuir muito com as mulheres do leite, vai ser um espaço para agregar novos conhecimentos na produção e na parte social. Projetos como este são importantes, as mulheres do rural precisam sair do anonimato, elas são protagonistas”.
Enquanto isso, produtoras como a Edna, aguardam com expectativa o início das reuniões. “Eu não vejo a hora de começar. Acredito que o projeto vai contribuir para nossa construção pessoal, auto estima e realização profissional, porque fazer algo nosso e ser reconhecida por isso, é tudo de bom. Também pode melhorar nossa renda no sítio, porque se a gente faz algo para melhorar nossa produção, com certeza o resultado vem”.
O Rally Mulheres do Agro tem o patrocínio da BASF, HELM do Brasil e Simbiose, além da parceria com a AgroValley e Missão Mulheres do Agronegócio Brasil.